Só quem passou por uma situação limite na vida, sentindo que fez algo realmente grave e desejando de verdade se retratar entenderá as palavras de Nelsinho Piquet:
"Eu me arrependo amargamente das minhas ações ao seguir as ordens que me foram dadas. Desejo a cada dia que eu não tivesse feito isso".
"Estou aliviado que a investigação da FIA tenha sido concluída. Aqueles que hoje dirigem a equipe Renault tomaram a decisão, assim como eu fiz, de que é melhor que a verdade seja revelada, aceitando as consequências. A coisa mais positiva que surge por trazer isso à atenção da FIA é o fato de que nada similar vai acontecer novamente."
É. Sem cair na hipocrisia nem na odisséia do esquecimento público, Piquet Jr. terá um longo caminho pela frente. Embora a FIA tenha uma clara política pública de bate-assopra, as equipes e os pilotos terão que ser bem mais originais e mais obscuros se quiserem agir dessa forma de novo. A maioria das pessoas condenará com razão, mas hipocritamente os feitos do trio Piquet- Symonds- Briatore. Hipocritamente porque esquecerá no cotidiano suas próprias falhas, enxergando no espetáculo da desordem um refúgio psicologicamente seguro para as intempéries do dia-a-dia.
O esporte de alto rendimento guarda essa chave. A circularidade de seus acontecimentos, via internet a milhões de K--bites por segundo e a dureza de suas relações políticas e econômicas gera distúrbios consumidos e reconsumidos. Daniel Médici já o destacava com razão no seu Cadernos do Automobilismo. Entretanto, vale a seguinte ressalva de Piquet Jr para o episódio e a lembrança de que nós, embora sonhemos com algo assim, nem de longe estamos preparados para sua louca realidade...ser um piloto de F1:
"Não sei o quanto a minha explicação vai fazer as pessoas entenderem, porque para muitos ser um piloto de corrida é um privilégio fantástico, como foi para mim. Tudo o que posso dizer a você é que a minha situação na Renault se tornou um pesadelo"
"Tendo sonhado em ser um piloto de F1 e tendo trabalhado tão duro para chegar lá, me encontrei à mercê de Briatore. O seu verdadeiro caráter, que antes era conhecido apenas por aqueles que foram tratados assim no passado, agora foi revelado."
Para ele, no entanto, é saber de seu real poder de reação frente às sociedades que o acompanharam, e à sociedade que quer regressar...ele tem condições de "recomeçar"? Eu não me surpreenderia se sim, já que a categoria também é feita disso, e talvez isso nos seja a razão de tanto estranhamento e fascinação. Se eu fosse ele, lutaria ao máximo para conseguir voltar, e daria o máximo para mostrar serviço, se recebendo uma segunda chance. Talento ainda acho que tem, vale saber se tem força interna para tanto. Ele que o diz:
"Tive de aprender algumas difíceis lições nos últimos 12 meses e reconsiderar o que valioso na vida. O que não mudou foi o meu amor pela F1 e a fome de correr novamente. Percebi que tenho de começar minha carreira do zero. Só posso esperar que uma equipe reconheça o quanto eu estava sufocado na Renault e me dê uma oportunidade de mostrar o que prometi na minha carreira na F3 e na GP2."
Game is over. And GP2?
Briatore's over. Banido do esporte para todo o sempre, pode levar processo criminal na Inglaterra, não terá mais acesso ao paddock e ainda seus pilotos gerenciados por ele terão de romper contrato se quiserem renovar a super-licença. Perdeu muito mais do que poderia perder, e vai tarde. Só que também abocanhou muito mais do que deveria ter abocanhado, e isso o fará como uma sombra. O que podemos esperar agora da GP2? Briatore vende sua parte? Usa um terceiro nas negociações da categoria?
A GP2 ainda fará parte do consórcio Renault com a FIA?
Pat Symonds também sofreu punição, só que de 5 anos. Provavelmente fará outra coisa até lá. E voltará. Até o tosco do Gascoyne voltou, por quê ele não voltaria? Só se não quiser mais sujar sua imagem publicamente, embora sua imagem valha muito menos que qualquer um dos outros envolvidos.
A Renault, por sua vez, saiu quase ilesa. Suspensa sob a forma de sursis, ela só toma a punição de fato (por dois anos) se cometer outro ato falho. A FIA não poderia perder a Renault assim de graça, mas isto tem muito intermédio de Ecclestone. A F1 precisa da marca nem que seja pelos motores. Ele mesmo precisa dela para a GP2, ou pelo menos por enquanto. Sinceridade...? Esta categoria de acesso só tende a crescer e deveria imediatamente ser alvo de mais outras montadoras, fazendo uma mini- F1 e colocando seus pilotos de desenvolvimento no teste de fogo, uma categoria competitiva de acesso que vai engolir de vez a F2 em uns anos.
Ótimo post,
ResponderExcluirRidson,
O quê fica no ar, é como, Nelson Piquet que bancou toda a carreira do filho, cometeu o erro de entregá-lo de bandeja ao Briatore.
Piquet que é malandro e sabe muito bem quem são, e do quê são capazes, as pessoas que vivem nesse meio. Acreditou nas promessas do mafioso italiano. Vejam no que deu!
Quanto à GP2, também concordo com você, deveria ser multimarcas.
Abs.
Ridson,
ResponderExcluirQue Briatore não é confiável todo mundo sabe,há muito tempo.
Agora esse papinho do Nelsinho que foi obrigado,que estava sob pressão,não me convence.
O guri é um tremendo bunda mole,quer dizer que se mandassem ele pular de cabeça de um prédio de 10 andares ele deveria fazer em troca de um contrato?Tá bom me engana que eu gosto.
abraço
Foi interessante vir aqui e dar de cara com um link com meu nome. É bem legal ver isso acontecer.
ResponderExcluirO que Nelson Piquet tentou fazer em seu comunicado foi o que Joe Sawrd chamou em seu blog de Defesa de Nuremberg. Basicamente, dizer "eu sei que o que fiz foi errado, mas estava apenas seguindo ordens de crápulas que me atordoaram e me impediram de fazer um julgamento correto da situação".
O que é válido, em termos, se o seu chefe é um baixinho bigodudo que quer exterminar 6 milhões de seres humanos. Nem tanto se é um empresário que quer fazer dinheiro.
Briatore era um crápula, sim, com o qual a FIA estava envolvida até o pescoço. Não sei como fica a GP2 e outras questões... Mas não tenho esperanças de que mude tanto. Acredito que ninguém do meio se comoverá com as desculpas de Nelsinho. Tampouco recusará os patrocínios que carregar consigo.
Com certeza Daniel. É uma situação difícil, mas creio que ficaríamos com mais opções para analisar o real caráter da F1 ao permitir a volta de Piquet.
ResponderExcluirA analogia com Nuremberg foi afiada...Joe foi no ponto. A intenção é clara, mas como abri o texto fazendo uma reflexão muito pessoal, de que quando as pessoas querem fazer o certo depois de fazerem errado, agarrarão uma segunda chance com todas as forças.
Pelo menos este mínimo de "humanidade" ele pode ter de mim. Eu posso dizer, salvas as devidas proporções (e como salvas) eu sinto o que ele poderia ter sentido, embora eu não tenha me escondido em nada para me defender. O que torna as coisas mais complexas.