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acompanho a F1 desde 1994. por vezes o estranhamento choca e traz interesse. gosto de história desde 2002. bons professores trazem a tona paixões que pareciam subexistir. sou Ridson de Araújo, tenho 21 anos, faço História na Universidade Federal do Ceará.

A Redação

Este blog foi criado no intuito de divulgar, publicizar opiniões caladas e pesquisas que em geral não tem o devido espaço que (acreditamos) merecem. A iniciativa foi de Ridson de Araújo, e agora contará com colaboradores. Cada pessoa que se encontra aqui na redação tem o potencial como várias outras pessoas que tem/não tem internet, de pensar e agir. Duas paixões e duas escolhas: História(s) e Velocidade.

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terça-feira, 25 de maio de 2010

Aulas de História Contemporânea- Independências na América Latina


Olá pessoal que acompanha o blog. Dando vazão À minha idéia de retomar a vertente histórica do blog, resolvi colocar aqui os textos que fiz em meu "curso" de História Contemporânea no Curso 6 de março, em Maracanaú. Este cursinho é destinado aos estudantes de escolas públicas de Maracanaú, com o objetivo de promover lutas sociais pelos direitos da população jovem deste município, estimulando estes jovens para o mercado de trabalho e conscientização social através do ingresso na universidade (que acreditamos ser um bom espaço de lutas). Lá sou voluntário faz alguns anos, e já trabalhei com todos os tipos de História...



Minha idéia é a seguinte: quem gosta de História, e quer opinar, discordar de minha abordagem, sugerir outras estratégias etc... comente...ajude este "curso" a se aperfeiçoar!

Aula 1- Independências na América Latina


  1. Problemática:

- Como se deram os processos de independência nas diferentes regiões da América Espanhola? Se deram de maneira uniforme e homogênea?

- Em comparação com o processo de independência brasileiro, quais as principais diferenças? Quais os principais motivos para estas diferenças?

- Qual é a relevância deste conteúdo para nosso tempo presente? Em que sentido podemos “ouvir os ecos do bolivarianismo em certas repúblicas da América do Sul?

  1. Conteúdos:

A Guerra de Sucessão Espanhola e o favorecimento dos reinóis:

- O processo de independência espanhol está bastante ligado ao processo de sucessão espanhol. Por qual motivo? O trono espanhol passou para a dinastia Bourbon, de origem francesa, pela falta de herdeiros masculinos ao trono espanhol. Com isto, a influência francesa se tornou evidente na economia, com uma exploração mais eficiente dos recursos coloniais na América, exploração esta fundamental para o inicial capitalismo francês. Também foi evidente na política, através de reformas jurídicas, educacionais e administrativas. Era o Despotismo Esclarecido, de bases Iluministas e em favor da burguesia.

- Assim, o pacto colonial foi renovado. E o que isto acarreta? Maior poder para os reinóis espanhóis, que controlavam a exploração colonial através de impostos e leis pesadas. Acontece que os espanhóis estavam em clara concorrência com os contrabandistas ingleses (base da expansão das influências navais da Grã-Bretanha) e para isso “apertaram o nó” contra as colônias. Desta forma, os reinóis, espanhóis que viviam nas colônias, se tornaram aliados mais do que eficientes da Coroa, acarretando insatisfações locais.

- Na América, basicamente existiam quatro grandes classe sociais: os reinóis espanhóis,grandes comerciantes e o alto clero, favorecidos pela dinastia Bourbon, hostilizados pelos colonos; os criollos, brancos nascidos na América. Estes estavam nos mais variados setores da economia colonial, desde grandes fazendeiros e mineradores a pequenos comerciantes e profissionais liberais...eram uma elite local, embora marginalizados da administração colonial e política; os mestiços e indígenas, que trabalhavam nas mais variadas funções marginalizadas, a maioria em trabalhos assalariados e em servidão doméstica. A eles eram cabidos os trabalhos nas minas e fazendas, exceto pelos; escravos negros, em menor número, e mais concentrados na região do Caribe.


A particularidade dos criollos e as revoltas coloniais:

  • Como falamos anteriormente, os criollos eram parte da elite local, exploradores diretos da população pobre, e donos de fazendas e minas exploradoras. Muitos dos filhos desta elite local eram enviados para estudar na Europa, onde tinham acesso a diversas leituras iluministas. Muitos ao voltar ocupavam postos administrativos subalternos, ou instauravam “Universidades” locais, com o intuito de disseminar a educação européia na colônia. Em quase todos os vice-reinos e capitanias da América Espanhola se instalou uma Universidade, embora seu acesso fosse restrito. Contudo, este aspecto foi importante para não só a disseminação de idéias e informações advindas da Europa, como estes espaços se tornavam locais de reunião e conspiração contra o regime colonial, ainda que presos ao sistema através do Pacto Colonial. Em suma, era uma espécie de “nativismo”, sem a intenção de independência, mas em clara oposição à exploração tal qual como estava sendo imposta.

  • Temos como exemplo destas “revoltas coloniais”: no Paraguai, em 1730; na Venezuela contra o mercantilismo em 1749; na Colômbia em 1779; e a rebelião de Tupac Amaru, ex-curaca (chefe de manufaturas de tecidos, minas e plantações), no Peru. Esta revolta em especial se destaca pela organização militar contra as forças espanhóis, chegando a obter algumas vitórias, e por ser um movimento contra a exploração ao trabalho indígena. Um fato é revelador para a História Colonial da América: os curacas no período pre-colonial eram os chefes indígenas locais no Império Inca. A colonização espanhola se utilizou desta organização pre-colonial para otimizar o regime exploratório. Isto desmistifica o fato de pensarmos o processo de colonização como apenas genocídio e truculência sem objetividade e sem flexibilidade.


Fatores conjunturais que influíram no processo de independência


  • A Revolução Industrial, que se desenrolou inicialmente na Inglaterra, e que trouxe profundas mudanças na produção de matérias-prima e na circulação destas mercadorias através do comércio marítimo, favorecido pela extensa rede de influência comercial inglesa pelo Oceano Atântico. Isto influi no processo de independência pelo interesse cada vez maior do Império Britânico de ter áreas livres para comercializar seus produtos, ou seja, os novos países.

  • A independência dos Estados Unidos, ex-colonia inglesa na América, e que teve como primeira meta pós- processo de consolidação da independência, uma expansão comercial, territorial e de zonas de influência, e isto se deu pelo continente americano.

  • A Revolução Francesa, que disseminou os ideais de liberdade e igualdade; para muito além disto, se destacou a atuação do período napoleônico no processo de independência, pois já em 1807, com a invasão e desestabilização francesa na Espanha, o controle europeu na América se fragilizou de maneira intensa.

Napoleão tomou a Espanha, depôs Carlos IV e colocou seu irmão José Bonaparte no trono. Os monarcas depostos nada puderam fazer, mas seus súditos se aliaram na chamada Junta de Cádiz, defendendo os direitos do herdeiro Fernando VII. Em meio a uma sangrenta guerra, o controle sobre as colônias se dividiu...a quem servir?

As duas fases do processo de independência:


Anteriormente em 1793, a Espanha se aliou aos demais países europeus contra a França revolucionária, por conta da dinastia Bourbon estar presente na Espanha. Após ser derrotada, teve de se aliar aos franceses, e isto gerou graves desconfortos com a marinha britânica, que já controlava o acesso dos espanhóis às colônias americanas. Para resolver isto, a Espanha abriu o portos aos países neutros, beneficiando os Estados Unidos e as próprias colônias. Na prática, isto derrubava o Pacto Colonial.

Quando a Espanha resolve retomar o Pacto, isto gera revoltas entre os criollos, desencadeando em grande instabilidade colonial, inclusive com uma tentativa frustrada de independência na Venezuela. Esta situação se agravou com a divisão política na Espanha entre Bonaparte e a Junta de Cádiz. Nas colônias, os cabildos, governos locais estabelecidos pelo desgaste do sistema colonial, optaram pela tática do lealismo para com os Bourbon. Isto ao mesmo tempo fragilizava o governo francês, como dava mais autonomia à colônia. Com a derrota francesa, os cabildos declararam independência por toda a América, exceto Peru e Guatemala. Daí vamos para as duas fases:


  • A primeira fase coincide com as guerras napoleônicas e se caracteriza pela fragilidade local de combater as tropas enviadas pelo novo rei espanhol, Fernando VII. Também se caracteriza pela falta de alianças com potências, já que os Estados Unidos se mantiveram neutros e a Inglaterra estava na ambiguidade de fazer jus à aliança com os espanhóis contra a França e ao mesmo tempo com a possibilidade de alargar sua influência econômica na América, vendendo seus produtos industrializados. Este período está compreendido entre 1808 a 1815.

  • A segunda fase é uma virada de mesa dos países recém-independentes, com o auxílio da Inglaterra, já que a França estava derrotada e o capitalismo industrial passava pela primeira crise de superprodução, necessitando abrir mercados À força.

Na segunda fase, dois sujeitos e pólos de luta se destacam: um é Simon Bolívar, da elite criolla venezuelana. Este tinha ideais republicanos, de uma América livre e forte, e imprimiu uma violenta e exitosa campanha militar rumo ao sul (Venezuela, Colômbia e Equador; e San Mantín, apoiado pelos Estados Unidos, rumo ao norte (Argentina, Chile e Peru). Ambos se encontraram no Equador e, embora San Martín tivesse ideais monarquistas constituintes (como D. Pedro I), este cedeu a Bolívar. Tentando concretizar o ideal de unidade política, os E.U.A e a Inglaterra interviram, contrários a países unidos e fortes.

Outros países também conseguiram seus processos de independência, como o México, o Paraguai e o Uruguai, além dos países da América Central.

Os ideais bolivarianos ainda se enfraqueceram mais por conta de disputas internas pelos poderes nas respectivas regiões, entre elites criollas dissidentes e/ou postas de lado por Bolívar e San Martín. Vale destacar isto, já que os movimentos de independência foram capitaneados pelos dois em quase toda a América do Sul, excluindo algumas poderosas elites locais no processo. Isto gerou uma imensa dificuldade para consolidar os processos de independência, tornando estes países muito vulneráveis às influências inglesa e estadunidense, gerando a volta da dependência econômica, sob outra roupagem.


A atualidade do tema:


  • Frequentemente estamos sendo informados sobre o “ socialismo do Século XXI”, proposto pelo presidente venezuelano Hugo Chavez, que se diz “herdeiro político” de Simon Bolívar. Aí vai uma pergunta: É possível afirmar que Bolívar tinha ideais socialistas? O que Chavez pretende ao se filiar historicamente com uma figura de liderança local, defensora de ideais criollos e de unidade política e econômica?

  • Podemos pensar como tentativas de unidade econômica na América Latina, por exemplo, o Bloco Andino, composto por Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela; e o Mercosul, composto por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. E uma unidade político-administrativa...seria possível? Seria interessante?


Até a próxima, com a nossa especial cobertura do Gp da Turquia...

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