Os escritores que aceleram neste blog

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acompanho a F1 desde 1994. por vezes o estranhamento choca e traz interesse. gosto de história desde 2002. bons professores trazem a tona paixões que pareciam subexistir. sou Ridson de Araújo, tenho 21 anos, faço História na Universidade Federal do Ceará.

A Redação

Este blog foi criado no intuito de divulgar, publicizar opiniões caladas e pesquisas que em geral não tem o devido espaço que (acreditamos) merecem. A iniciativa foi de Ridson de Araújo, e agora contará com colaboradores. Cada pessoa que se encontra aqui na redação tem o potencial como várias outras pessoas que tem/não tem internet, de pensar e agir. Duas paixões e duas escolhas: História(s) e Velocidade.

O blog, na verdade: é de todos.

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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Probabilidades, possibilidades e esperanças- História e mercado de pilotos

A História se revolve com essas três premissas: Probabilidades, possibilidades e esperanças. Isso mostra o quão difícil é construir um texto historiográfico; as fontes nos direcionam para diversos caminhos e nos dão uma gama limitada de posibilidades de reflexão e afirmação de certos fatos. Tanto que se torna particularmente difícil de dizer se o historiador consegue dar conta da "realidade"ou não...particularmente fico com a interpretação de certos relativistas, que escapam da armadilha do total-relativismo na História ao afirmarem que o historiador constrói suas narrativas através do exercício da pesquisa, mas sempre com a premissa de que vai encontrar traços de realidade nos quais vai constituir sua teia de reflexões...um historiador-aranha que perce a importância do enredo das coisas...
Tá...os muitos não-historiadores que acompanham o blog que conseguiram sobreviver a essa primeira idéia provavelmente não devem ter feito todas essas conexões com o mercado de pilotos para o próximo ano. Explico: assim como na disciplina histórica, como nas Histórias que compõem o arcabouço de histórias e enredos do Esporte a motor, muito se pode fazer relação quando se observa as expectativas dos mercados de pilotos. Todo ano é uma novela, que pode se desenrolar em várias tramas e teias, e o que nós amantes da F1 e do esporte a motor fazemos, junto aos blogueiros e jornalistas (há sujeitos que são as três coisas...hehe), é tentar elucidar , no conjunto de pistas que recolhemos, traçar como se desenrolaram/ desenrolam/desenrolarão essas histórias, esses enredos. A prática muitas vezes questiona a lógica da teoria. E isso que é legal. Muitos não sabem que os historiadores se deparam com as mesmas angústias e dúvidas. E com a mesma paixão. Entre os dois mundos, vivo na expectativa pelo mercado de pilotos para o ano que vem.
Probabilidades
As coisas dadas como certas, são as que mais nos surpreendem. Mas são as que menos nos deixam surpreender. Delas nos baseamos pela lógica da teoria, do que deve acontecer. mas só se sustentam pela enorme quantidade de fontes... sejam elas tendenciosas ou não. Cabe a quem tenta averiguar isso, historiador ou não, de questionar as fontes perguntas que elas tenham condições de responder e comparar as fontes. Nunca, contudo, perder de vista que muitas coisas só se pode saber por só uma fonte... sem cair no dogmatismo religioso.
Exemplo de História:
O holocausto, ou todas as grandes verdades ditas como incontestes. Sabemos que houve guerras, assim como sabemos que houve conflitos de interesse, assim como sabemos mais ou menos com propriedade os interesses e as vantagens. Sabemos onde isso deu, onde isso se desenrolou. A grande questão a se fazer é: como se desenrolou? Qual a atuação dos sujeitos? O que se pode dizer como certeza?
No campo das probabilidades, arrisca-se a certeza. Não vejo porque duvidar se houve holocausto ou se houve um massacre nojento de judeus, inimigos políticos e minorias étnicas. É possível, entretanto, tecer com exatidão as tramas e os enredos disso tudo, ou temos que confiar no olhar crítico de quem as tece e desenrola?
-Exemplo da expectativa para o mercado de pilotos:

É o caso de Kubica na Renault, como foi o caso de Alonso e está também sendo o de Hulkenberg, na Williams. Muito se diz, muito se espera. Em breve todas se aferem como certas e incontestáveis... Alonso na Ferrari foi exemplo disso agora como Senna na Williams em 1994. Muitos apontam os motivos e esquecem / minimizam os contra-motivos; poucos se questionam como se dão/ deram as condições dos termos, os bastidores, e em que condições cada piloto chegará na próxima temporada.
Kubica na Renault? Primeiro piloto e propaganda? Como estará a Renualt. Qual será a força de Kubica em comparação a um segundo piloto?
Hulkenberg na Williams? Como será a atuação? Aprendiz e propaganda? Atrativo de patrocínios? Será favorecido pela equipe ou terá que segurar a onda do bonde do piloto experiente que virá, possivelmente como primeiro piloto para 2010. Isso continuará em 2011?
Possibilidades
Nunca é fácil dizer o que vai acontecer até se concretizar. E isso se dá quando se observa o presente. Como não é fácil entender assim o passado, pq se tem uma idéia de algumas coisas que aconteceram, e nos norteiam, mas não se dá para saber em sua concretude o que não aconteceu, ou o que deveria ter, em teoria, acontecido.
Exemplo de História:
- Quando se investiga a ação de operários e operárias no contexto das greves fabris que marcaram o início do séc XX e que já aconteciam no século XIX, muito se espera que as mulheres defendam seus direitos e que os homens lutem contra isso, assegurando os seus. Pois bem... há casos conhecidos de mulheres que saem nas ruas em defesa do resguardo da mulher em casa, cuidando da família e dos filhos, sendo subserviente pois é seu papel social... e há homens que vão às ruas defendendo direitos iguais dos indivíduos, e também os das mulheres...há os que as defendem, mas descartam a possiblidade delas de lutarem pelos próprios direitos, deixando na mão deles lutar por elas; como há os que as conclamam para a luta e vão lá junto a elas.
Isso só mostra a diversidade de enredos e tramas que compõem os acontecimentos, e que o historiador tem de "se ligar" neles e através da pesquisa desenrolar sua escrita, seu olhar, sua reflexão. Sempre tendo a pesquisa como algo para lhe dizer o que dá para dizer, e o que é forçoso demais.
-Exemplo da expectativa para o mercado de pilotos:
É o caso de Rubens Barrichello na Williams, ou o de Kimi Raikkonen na Maclaren Mercedes. Ambas as situações revelam muito do que se espera deles e o que eles esperam próximo ano.
Rubens é o cara experiente, que trabalha muito junto aos engenheiros e mecânicos, para desenvolver ao máximo as habilidades do carro, que a Williams quer. Além disso, é o piloto com a velocidade e habilidade necessária para reerguer a Williams. Não é um engenheiro, não é um mecãnico, ou seja, não atua na produção do carro ou coisa assim (ainda vou escrever nessa semana sobre a atuação de um piloto nesse processo de melhoria do carro), mas é o cara que na atuação nos treinos e corrida que traz o máximo de informações que só podem ser obtidas para a equipe pelo piloto. É o ajuste fino para a corrida.
Assim, Rubens na Williams é uma possibilidade grande, mas ainda no campo da possibilidade. Por duas razões: uma, que não tem a melhor imagem frente ao pensamento de Frank Williams de como deve se portar como um piloto de F1, no que diz respeito às suas declarações públicas do que se passa na equipe. Isso nenhum dono de equipe gosta muito, mas Williams é mais sensível do que os demais; o segundo se chama Heidfeld. O alemão tem mais o menos as mesmas características, e está sobrando. Só que é mais jovem (não mais determinado e empolgado), embora com um pouco menos de talento.
É assim também com Kimi na Maclaren. Kimi fez sua melhor passagem na categoria em Woking. Saiu de lá, entretanto, para realizar um sonho.Kimi tem a velocidade necessária, tem o talento necessário para a equipe e quer um carro competitivo, como o que a equipe quer.
O que deixaria Kimi no campo das possbilidades e não probabilidades? Duas coisas:
- Hamilton quer o status de primeiro piloto. Ter Kimi é um empecilho à là Alonso, e embora Kimi não seja de criar caso disso, seria um desafio totalmente diferente de Alonso, e igualmente duro. Não sabemos o real poder de Hamilton frente à tendência histórica da equipe de dois pilotos fortes... e é aí que a lógica da teoria pode cair por terra na realidade prática.
- Kimi já passou por lá e não deixou muitas saudades quando saiu. 2006 não foi um ano bom, e Kimi saiu com farpas. Embora o clima frio da equipe seja o melhor estilo para Kimi atuar, e Kimi tenha construído um nome por lá, será difícil superar o ranço criado na saída para a Ferrari.
Esperanças
É onde jaz a força renovadora. Seja da F1 ou da História. A capacidade de mudanças... o efeito catalítico delas. Fazer parte como protagonista ou estar alheio como um personagem secundário e sem rosto?
História:
Quando se pensa em esperança, inevitavel se pensar em futuro. O Historiador não consegue chegar no futuro...a não ser no futuro do pretérito. Reescrever a trama do passado questionando os fatos. Questionando o já dito. É por isso que se pesquisa em História. Ter em mente a renovação da coisa. Novos elementos para a reflexão, novas abordagens dos elementos com novas fontes. É isso que permite ao historiador esperança: de mudar a compreeensão presente e futura através da reescrita do passado.
Só com isso se pôde desmistificar o dogmatismo do nacionalismo, se pôde questionar e dar voz aos elemetos ditos alheios da História, os marginalizados. Só com isso, também, se pode reescrever as Histórias das elites e também desmistificá-las, tirando-as do pedestal e da pura e simples fogueira.
Mercado de pilotos:
A silly season vai ficando mais smart (esperta).
Muitas esperanças vão surgindo. Mudar finalmente para uma equipe grande (Sutil); ingressar na F1 (vários novatos, entre eles os dois novos pilotos brasileiros, como Di Grassi na Renault e Campos e Bruno Senna na Campos e Force India).
Posso aqui tentar desenrolar os dos dois brasileiros e de três estrangeiros:
Di Grassi é o terceiro piloto da Renault. Isso faz com que ele seja uma opção de fato para a equipe, que não está nada satisfeita com Grosjean. Grosjean tem filiação francesa no mundo do automobilismo, mas o mercado por lá não está tão assim, digamos, atento a isso, e o daqui ficaria levemente mais animado com um piloto brasileiro. Di Grassi vem crescendo em popularidade, chegando agora aos olhos do teleespectador menos fanático brasileiro. Defende muito bem posições e ataca bem. Pilotou muito no ano passado e neste ano também, mesmo sofrendo com os equipamentos.
Di Grassi, entretanto, mesmo sendo mais piloto que Grosjean, não tem grandes patrocínios. Não foi campeão da GP2. A Campos precisa de um piloto pagante, e a Renault não está nada bem financeiramente com a perda de grandes patrocinadores. Aí, a opção da Indy fica mais límpida do que nunca.
Bruno Senna tem patrocínio, tem talento, mas lhe faltam resultados expresssivos e títulos. A Force India anda de olho nele, a Campos também, mas o peso do nome famoso junto com a pressão decorrente midiática e o fato dele não ter pilotado em monopostos-fórmula o fez ficar meio que para trás na corrida. Uma escolha bem errática a dele de não ter permanecido na GP2 este ano, que foi excepcionalmente interessante, disputada e atrativa aos olhos da mídia.
Adam Caroll anda esquecido da mídia, mas mostrou muito talento nos monopostos em Superleague e A1Gp. Andou conversando com Campos, Manor e USF1. Tem certos patrocínios...
Mas estando tão longe da mídia..é pq acertou no escuro ou no escuro ficará desajustado.
Vitaly Petrov, vice da GP2, foi muito especulado. Tem muitos, mas muitos patrocínios. Falta-lhe constância, pois só é rápido. Isso pegou mal nos ares da Force India e USF1, que mesmo precisando de muita grana fizeram de despreocupados com isso. Não é todo o dinheiro da Rússia petroleira que vai dá-lo um lugar ano que vem. Pode ser , sem dúvida, o mercado promocional russo que dará.
Na contramão (ou não) da política econômica bernieocrática (ou capitalista ), esses cinco são esperanças a serem postas em xeque pelo liquidificador cruel da escolha para o ano que vem. Seriam forças renovadoras como Hulkenberg, Vettel e Rosberg?

5 comentários:

  1. Muito bom texto cara, outra coisa legal, nós historiadores sabemos muito bem que passado e futuro são inatingíveis, nossa função é trabalhar o nosso presente e à partir dele tentarmos construir ou imaginar ("O imaginemos do Hobesbaun rs") o passado ou palpitarmos sobre o futuro.Isso é que disfere nós historiadores dos pobres mortais.

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  2. Sempre bom saber onde e como situar as duas coisas. É isso aí João.

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  3. vamos esperar os rumos da Silly Season. Se Button for campeão em Interlagos, ela vai explodir de vez...abs

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  4. pois eh...

    acho que resta saber apenas o destino de Button e o da Mercedes, se vai comprar ou não a Brawn. Só falta isso pra definir as posições definitivsamente...

    E concordo com a análise,,, a f1 é um ambiente propicio para conexões históricas, tanto dentro dela como fora..

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  5. Achei a tua análise brilhante, meu caro. Decompor a "silly season" da Formula 1 em termos de explicação histórica dos factos do passado, confesso que é algo sensacional, visto neste prisma. E vendo as coisas nesta maneira, fica mais claro o tipo de noticias que se ouve na imprensa especializada acerca das possibilidades da grelha da Formula 1 para 2010.

    Em relação à "probabilidade Kubica", posso dizer que tal deveria ter sido realidade esta Terça, mas a Europa Continental já vive a quarta-feira e nada aparece. Um adiamento inoportuno?


    No campo da "possibilidade", posso colocar a Lirus, e ainda por cima com um elemento extra: a mesma dupla da Toyota em 2009... pode ser a da Lotus em 2010. Trulli adora trabalhar com Mike Gascoyne, e Glock gosta da ideia da Lotus. Afinal de contas, com 105 milhões de euros na mão, esta é uma equipa que tem tudo para sair do papel...


    Ontem falei muito por alto nas minhas bandas sobre a ideia da Virgin/Manor querer Bruno Senna, pelo nome, dinheiro e prestigio que traria. Hoje aparece uma revista que jura a pés juntos que ele vai para lá, acompanhado de Alvaro Parente. Para mim seria uma esperança, mas a revista jura a pés juntos que é uma possibilidade...

    Veremos. Eis o ponto da situação hoje. Daqui a uns 15 dias a história será completamente diferente, não é?

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