Os escritores que aceleram neste blog

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acompanho a F1 desde 1994. por vezes o estranhamento choca e traz interesse. gosto de história desde 2002. bons professores trazem a tona paixões que pareciam subexistir. sou Ridson de Araújo, tenho 21 anos, faço História na Universidade Federal do Ceará.

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Este blog foi criado no intuito de divulgar, publicizar opiniões caladas e pesquisas que em geral não tem o devido espaço que (acreditamos) merecem. A iniciativa foi de Ridson de Araújo, e agora contará com colaboradores. Cada pessoa que se encontra aqui na redação tem o potencial como várias outras pessoas que tem/não tem internet, de pensar e agir. Duas paixões e duas escolhas: História(s) e Velocidade.

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quinta-feira, 2 de julho de 2009

Experiência, Apropriação & Circulação de Idéias

O que poderia vir primeiro: a cultura ou as relações sociais?
Este é um debate muito pouco refletido, silencioso e cruel que assola os departamentos de História. Parte da divisão que ocorre nas produções acadêmicas na Europa e Estados Unidos desde o início dos anos 1960, culminando com a linha da História Social, dando ênfase nas relações sociais,historicizando os sujeitos históricos pela experiência coletiva que estes grupos produzem, derubando a antiga idéia de classe recortada apenas pelo plano econômico, com um intenso diálogo (e paradoxal rixa) com a Sociologia. Thompson é o principal expoente desta corrente, tendo lançado alguns de seus principais pressupostos.
Posteriormente, os estudos culturalistas advindos de outro intenso diálogo com a Antropologia Cultural e a filosofia pós-estruturalista, abordaram a História pelo viés cultural, historicizando os pensamentos e as práticas ditas culturais. Usando do conceito de cultura no sentido mais alargado, ou seja, compreendendo visões de mundo e práticas coletivizadas e/ou individuais como formas de expressão e vivência. Cultura ligada às formas de exercer poder (este outro conceito alargado, com Foucault); identidades como discursos construídos historicamente, ligados à identificação e exercício de memórias coletivas construídas; pensamentos que circulam em diversas temporalidades.
As duas correntes inexplicavelmente se batem bastante. Ambas são as formas mais atuais de se escrever História, e possuem extremas interligações. Não se trata aqui de um estudo acadêmico de teoria, não vale a pena aqui se esmiuçar em citações, mas vale e muito a pena se perguntas porque se chocam tanto? E como se interligam?
Primeiro como se interligam:
- A corrente da História Social tem como maior expoente Thompson, que utilizou o conceito de experiência para analisar costumes(e identidades socialmente construídas de grupos sociais)que se formam na experiência social gerando costumes que são suprimidos e/ou espalhados, gerando expressões culturais. É uma boa explicação de como historicamente se cria cultura.
- Chartier, grande expoente da História Cultural, trabalha a cultura de modo muito semelhante a Thompson, compreendendo a formação de expressões culturais historicamente, e da importância de se estudar como historicamente as idéias são apropriadas de maneiras diversas, na prática ou nos discursos. Apropriação é feita por indivíduos, que podem até mesmo ressignificar estes sentidos, das palavras e das práticas, mas só o fazem pela prática experimental.
-Diversas novas pesquisas só puderam surgir devido a interligação de conceitos de ambas as teorias históricas; experiencia casa com apropriação; circulação de idéias só ocorrem quando estas idéias, por algum fator, são levadas por veículos de poder, e os exercícios de poder só se constróem socialmente, entre grupos sociais que se encontram em esferas privilegiadas em relação a outros. Ginzburg, da Microhistória, é que trata da circulação cultural (esta Microhistória, que usa História Social e Cultural partindo de um caso para se entender o macro.
- A História Social da Cultura se aproxima muito da História Cultural, apenas se direferenciando pela maior ênfase na experiência do que na análise cultural dos discursos e ritos.
Existem vários outros fatores, que em outro momento falaremos.
Mas pq se chocam tanto?
- Os culturalistas são pós-estruturalistas. Em sua maioria. E os sociais em geral defendem novas formas de estruturalismo. Mesmo que suas idéias se aproximem, a escolha por um ou por outro é política. Vira ranço, vira disputa de poder dentro dos departamentos.
- O despreparo e falta de atualização de muitos da História Social, que temem usar conceitos dos quais passaram a vida acadêmica rejeitando ou se escondendo, aliada à formação que desprezava o fator cultural na expressão social dos sujeitos históricos
- Os culturalistas tendem a ser bastante generalizantes, por trabalharem com recortes menos concretos,e os sociais rejeitam abordagens generalizantes, pela modificação do termo classe, que para os sociais é fruto não da posição econômica tão somente, mas sim mais específica, mais íntima.
É uma tremenda bobagem a rixa entre as duas correntes, e é muito fruto da perda de espaço das abordagens sociais para as culturais, que muito têm em comum e muito contribuem para novas abordagens e novas questões de análise, como gênero, etnia ou religiosidade. Sem a utilização de conceitos e métodos das duas correntes, essas linhas de pesquisa tendem a se esfacelar e enfraquecer. É como o momento atual da crise política da F1, em que as disputas de poder enfraquecem duas forças mutualistas, as equipes e a categoria. Todos perdem na briga, todos ganham na troca sadia de idéias.
Então como poderíamos responder à pergunta inicial: tento aqui.
Socialmente as experiências geram expressões e costumes, que são compactados em discursos, representações e ritos, que constituem cultura (união de costumes). As culturas se chocam, entram em disputa e os sujeitos se apropriam de várias formas, gerando novas expressões culturais através de novas experiências. E estes sujeitos, através das experiências, forjam memórias pessoais e se identificam, criando identidades individuais (identificações congeladas em discursos ); ou coletivamente forjam memórias, que são identidades coletivas ( que por conseguinte provocam novas identificações, que são guiadas por intenções, por pensamentos em disputas. E essas identidades se constituem na experiencia, ao se confrontarem com outras identidades; as diferentes formas de ver o mundo e de se expressar nele, se enxergam diferentes umas das outras, e criam novas apropriações, novas experiências, novas identidades.
Tudo é criado historicamente, por isso existe.
É a ressignificação do pensamento descartista: Crio, experimento, vivo, logo isso existe, mesmo que não existisse antes.

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